Um dos últimos textos de Paulo Leminski – poeta, escritor, tradutor e professor brasileiro – antes de sua morte em 1989. Boa leitura.
O corpo não mente
Quando Francisco Xavier, o missionário jesuíta, aportou no Japão, na crista das navegações, sua catequese produziu milhares de conversões e o catolicismo começou a se espalhar pelo país.
Nas cartas que escreveu para seus superiores em Roma, Xavier descreve com júbilo os progressos do apostolado na Terra do Sol Nascente. Nas mesmas cartas, porém, queixa-se contra os adeptos de uma seita chamada zen (deve ser a primeira menção ao zen na Europa). Não consigo converter nenhum dos adeptos dessa seita, Xavier confessa. Não mostram nenhum respeito pelas coisas sagradas, riem de tudo e debocham dos símbolos de nossa religião, prossegue
A razão secreta do insucesso de Xavier com os praticantes do zen reside na radical diferença entre as relações corpo/mente (ou corpo/alma) no catolicismo e no zen.