Archive for dezembro, 2022

22 de dezembro de 2022

Renato Janine Ribeiro – A sociedade contra o social

Disponibilizo aqui o capítulo de título “A sociedade contra o social ou A sociedade privatizada¹”, originalmente publicado como artigo no Jornal Folha de São Paulo, mais tarde incluído no livro “A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil”, São Paulo, Companhia das Letras, 2000. Espero que esta pequena amostra sirva para instigar a leitura completa do livro. Sobre o autor.


A sociedade contra o social ou A sociedade privatizada – O exame da linguagem corrente hoje no Brasil constata uma curiosa oposição entre os termos sociedade e social. Isso ocorre, em particular, no seu uso por parte de empresários, políticos e jornalistas – para começarmos por uma caracterização profissional. Mas também sucede, para passarmos a uma determinação política, que, porém, se sobrepões à primeira, por parte dos setores mais à direita. Estes últimos anos, nos discursos dos governantes ou no dos economistas, a “sociedade” veio a designar o conjunto dos que detêm o poder econômico, ao passo de que “social” remete, na fala dos mesmos governantes ou dos publicistas, a uma política que procura minorar a miséria. Assim, a “sociedade” é ativa: ela manda, sabe o que quer – e quer funcionar por si mesma, sem tutela do Estado. Corresponde em boa medida ao que, na linguagem marxista, se chamariam as classes dominantes.

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13 de dezembro de 2022

Celso Furtado

Celso Furtado Teoria e Politica do DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – Capítulo 13 – FORMAÇÃO DAS ESTRUTURAS DUALISTAS

O ADVENTO DE UM NÚCLEO INDUSTRIAL, na Europa do século XVIII , provocou uma ruptura na economia mundial da época e passou a condicionar o desenvolvimento econômico subsequente em quase todas as regiões da terra. A ação desse poderoso núcleo em expansão passou a exercer-se em três direções distintas.

A primeira marca a linha de desenvolvimento, dentro da própria Europa Ocidental, no quadro das divisões políticas que se haviam cristalizado na época mercantilista. Neste caso o desenvolvimento assumiu a forma de desorganização da economia artesanal pré-capitalista e de progressiva absorção dos fatores liberados, a um nível mais alto de produtividade. Identificam-se duas fases nesse processo; na primeira, a liberação de mão-de-obra era mais rápida que a absorção, o que tornava a oferta desse fator totalmente elástica; na segunda, a oferta da mão-de-obra , resultante da desarticulação da economia pré-capitalista, tende a esgotar-se.

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